29 junho 2008

Falácias da liberdade


No meu novo trabalho tenho vários colegas de diferentes origens, senegaleses, paquistaneses, romenos, marroquinos. Com quem tenho conversado mais é com uma mulher marroquina de origem e muçulmana de religião. Todos os dias vem com o seu véu posto na cabeça, sempre a condizer com a roupa que traz, e só o tira quando estamos só entre mulheres. Tenho muita curiosidade pela sua cultura e por isso todos os dias faço-lhe imensas perguntas às que ela responde com agrado e sempre com sentido de humor. Pergunto-lhe se as mulheres muçulmanas podem fazer desporto e ri-se com a minha pergunta. Claro que sim, responde, eu vou à piscina e à praia, tenho uns fatos de banho especiais que me cobrem o corpo todo e em geral escolho as horas em que há menos gente para estar mais à vontade. Pergunto-lhe se a filha dela também vai usar o véu e diz-me, só se ela quiser, não adianta nada estar a impor uma coisa para que ela depois na rua o tire e só volte a pô-lo quando entra em casa, só se ela de facto o quiser usar. Pergunto-lhe se o marido dela faz tarefas domésticas e diz, claro que sim, hoje em dia os homens árabes também já ajudam em casa. E remata, não acredites nas coisas que dizem de nós na televisão, como em tudo, só falam dos mais radicais, daqueles que interpretam o Corão de uma forma radical para o seu próprio proveito e não para o do povo que governam. No Corão não está dito que as mulheres não podem estudar, nem ser profissionais, ao contrário, é como a Bíblia, também não diz que as mulheres têm de ser donas de casa, o que se passa é que durante muitos anos tanto na minha sociedade como na tua quem mandava interpretava as escrituras sagradas da forma que lhe dava mais poder.


Por isso pergunto-me, como me sentiria eu, se por emigrar para um país com costumes diferentes dos meus, onde o símbolo de liberdade das mulheres fosse por exemplo, usar mini saia (atuendo que eu nunca uso), me obrigassem a ir todos os dias de mini saia para o meu trabalho para mostrar que sou uma mulher livre num país livre. De que liberdade estamos a falar, a de poder escolher como me quero vestir, de acordo com os meus princípios e gostos, ou a de só ter uma oportunidade de escolha, a de vestir como se veste nesse país, para mostrar que não sou diferente e que sou livre? Às vezes parece que só aceitamos a liberdade e a diversidade se ela for igual ao que consideramos como certo dentro do sistema simbólico que construímos.


Ou seja, diversidade sim, sempre e quando seja igual a nós.

28 junho 2008

Uma noite qualquer

Apesar da escuridão das duas da manhã descobri-o na minha cama quando entrei no quarto. Olhava-me enquanto me despia e percebi que não poderia resistir-lhe. Puxei-o para mim e deixei que fizesse do meu corpo o seu mar. De manhã devolvi-o ao seu lugar de sempre, a gaveta da mesa de cabeceira.

26 junho 2008

Tudo água


A vermos o seven digo-lhe "o teu sorriso é tão parecido com o dele". Ele responde "também acho, a gargalhada do morgan freeman soa igual à minha".

(nós bem tentamos os piropos manyfaces, vocês é que não nos levam a sério)

Cuidado com o que se deseja

Ela 1: Descobri que devia dar umas quecas, a última que dei foi há tanto tempo que ainda se escrevia com ph.
Ela 2: Pois devias, faz bem à pele e liberta o corpo.
Ela 1: Só não sei se hei-de encontrar um amigo colorido ou embarcar numa one night stand. O método para chegar ao objectivo está-me a tramar.
Ela 2: Tem cuidado com o que desejas. A última vez que estive assim apareceu-me um fã do sexo tântrico. Grande seca, foi a noite mais longa da minha vida.

24 junho 2008

Quem não admirará os progressos deste século?

À frente do quadro que irradia luz branca, o meu pai em páginas e páginas de fatias transparentes, quadradinhos minúsculos com manchas pretas, cinzentas, brancas, que o médico examina com hums periódicos.

23 junho 2008

A ultrapassagem - um epitáfio

Dino Risi (1916-2008)


Um homem do mundo. Um burguês, bon vivant, mulherengo, sarcástico e ácido, adorava os seus actores e protegia-os para que lhe dessem tudo. Sente-se esse afecto. Quando propõe ao grande cómico italiano fazer um papel dramático. Quando aposta no sedutor mor do reino para fazer de cego amargo e insuportável. As mulheres, essas, sempre lindas e desejáveis.


Licenciou-se em medicina e especializou-se em psiquiatria, mas fartou-se de tratar pessoas que não tinham cura e dedicou-se ao cinema. Começou em 1946 e durante 58 anos nunca parou.


A sua autobiografia, I miei mostri, compilação de notas soltas que nos vão permitindo entrar na história de vida que Risi quer deixar. Um homem com os olhos cheios de ironias e cansaços, como este «Quando vado al cinema e vedo un film di Nanni Moretti, penso: "Spostati Nanni, e lasciami vedere il film"» (quando vou ao cinema e vejo um filme de Nanni Moretti penso: Sai da frente Nanni, deixa-me ver o filme).



Il sorpasso (1962), Jean Louis Trintignant e Vittorio Gassman


"E la morte? La morte, ha detto Saul Bellow, sarà una grande noia. Non è vero. La morte sarà bellissima. E, aggiungo, ricca de sorprese." Dino Risi, I miei mostri.

Porque a amizade é a coisa mai' linda

Andava eu a deambular por essa blogoesfera fora, ao mesmo tempo que lia correspondência antiga, quando reparei que podia fazer o match da informação coligida hoje por este cérebro a precisar de sargenor (ou de sol, sei lá).

Resumindo, esta história lida aqui e desabafada depois ainda aqui, lembrou-me este texto que publico em baixo na íntegra, dedicando-o à minha amiga-d'alma-de-sempre-e-de-todos-os-dias, com o bónus acrescido de lhe postar uma música, que o caprichoso lifelogger só disponibilizou hoje.


Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.


Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.


Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Procura-se um amigo, Vinicius de Moraes.




21 junho 2008

Isto é que é um projecto-lei!!

Este é o melhor projecto-lei, ainda em aprovação no Brasil de Lula, de que alguma vez tive conhecimento na minha vida. Basicamente este projecto estipula que, cada pessoa que se case fique obrigada a plantar 10 árvores, que cada pessoa que se divorcie fique obrigada a plantar 25 árvores e que por cada automóvel que se compre, o consumidor seja obrigado a plantar 20 árvores. Contas feitas, teríamos a bonita soma de 65 milhões de árvores plantadas anualmente só no Brasil. Fica o desejo de que se aprove este projecto e de que ele possa servir de inspiração para o resto do mundo. Por mim, venham mais destas!

Dance me till the end of love

Todos os anos, no mesmo dia (a hora é que é variável) é a tua vida que celebramos. Hoje é o dia.

Muitos parabéns, querida amiga, que és-sempre-foste multiplamente bestial.



(este ano vou dançar contigo mais vezes. prometo.)

20 junho 2008

Será de mim?

Descobri há dias que existe uma organização de caridade que se chama Criaditas dos Pobres. Não consigo deixar de pensar que seria um inspirado título para um filme porno.

19 junho 2008

Tomada da bastilha

Auditori, Barcelona.
às 10 ele espera por mim, eu não faltarei.

dificuldades educacionais v

Não pasmar perante o look "jogador da bola e partenaire".

9h 33min

É um novo recorde mundial de uma modalidade muito própria. Sugiro que dêem um passeio no site(s). É todo um mundo novo....

Pipocas de telemóvel

Não consigo postar o video. Mas vão ver aqui mais esta maravilha da tecnologia aplicada à culinária!

Estatística


A normalidade é uma questão estatística. De alguma maneira, olhar para a gaussiana tranquiliza a inquietação de me situar numa das caudas. Só não sei é em qual.

18 junho 2008

mini golf

Para os retretistas cá da casa!





Esgotou. Mas volta a estar disponível aqui a partir de sexta-feira. E ainda recebem, absolutamente grátis, um "do not disturb sign". Não é para todos!

Adenda Relambório de contas

deus é grande, deus é pai e mãe e chegou por fim o documento que faltava para poder terminar a prestação de contas ao estimável público contribuinte:





Deixaremos a informação sobre o MC-L7C mais uma semaninha e depois passará a estar disponível no arquivo do blog. Alguma coisinha, já sabem, a caixa de comentários está à vossa disposição.

PS: Haja alguma alma caridosa que me faça o favor de pôr os tils.

17 junho 2008

Constatação de final de dia

Ando a precisar de um filme novo do Baz Lurhmann.

mais um passo

foto daqui

Esta tarde recebi esta mensagem pelo chat do skype:

“Mi siete, te cuento que Óscar está en la Universidad Nacional mientras hay una protesta con piedras, bombas molotov y ejército, hasta un carro han atravesado en la entrada de la 26... ya te contaremos como van las cosas, por ahora salgo a hacer algunas diligencias”.

O meu amigo Óscar hoje andou para trás e para a frente na Universidade Nacional da Colômbia, que é um espaço gigantesco, para poder entregar todos os documentos necessários para a graduação do meu mestrado (a saga continua!). Agora à noite, conversámos pelo skype e contou-me que quando estava a sair do Edifício de Post-Grados apanhou a manifestação dos estudantes que continuam a protestar contra a reforma estudantil. Eu tive sorte, pois no dia em que ia defender a minha tese houve uma ameaça de que iam fechar a universidade, coisa que já aconteceu sucessivas vezes ao longo deste ano (e nos anos anteriores também, diga-se em abono da verdade, mudam os temas mantém-se os protestos), mas depois tudo voltou à normalidade e não houve batatas bombas a celebrar a minha defesa. Mas hoje, último dia para entregar os documentos, houve de tudo, e o estóico Óscar, que é um amigo para as curvas, teve de andar a fugir da polícia, dos estudantes ensandecidos que mandavam petardos, cocktails molotov, batatas bombas e tudo o que aparecesse à mão de semear ou de explodir, apanhou com o gás lacrimogéneo que a policia usa para dispersar manifestações, e que é horrível, fica-se a chorar durante meia hora com os olhos a arderem como se tivessem fogo. Isto para além da pressão psicológica (para ser eufemista) dos batalhões da polícia que aparecem vestidos de robocop e que à minima coisa desatam a dar cacetada (continuando a ser eufemistica) a toda a gente que lhes atravesse à frente. Digo-vos de experiência própria que não é nada agradável participar em manifestações em Bogotá e menos ainda ser apanhada de surpresa no meio de uma. E isto que em Bogotá ainda se podem, mal ou bem, fazer manifestações, nas outras cidades do país é muito mais difícil pois o medo é demasiado grande.
Mas petardo aqui, bomba acoli, o Óscar conseguiu entregar os mil e 500 documentos necessários para mais este trâmite burocrático! “Vamo-nos graduar”, disse-me ele feliz, pois vai ser ele quem vai assistir à cerimónia de graduação do mestrado em meu nome, “vai ser a primeira vez que me vou graduar e ainda para mais do mestrado que eu também vou fazer um dia”.

O optimismo em meio da adversidade é uma coisa linda, digam lá que não...

Mais informações e videos sobre a manifestação de hoje na UN Aqui

Take your protein pills and put your helmet on

É a primeira vez que a Agência Espacial Europeia aceita portugueses num concurso para astronautas. O David é um dos candidatos, em contagem decrescente. Because it is there.


15 junho 2008

A biologia a quem a trabalha - 1

"A visualização do cariótipo é útil na medida em que nos permite detectar eventuais anomalias, como por exemplo trissomias ou monogamias"

(num caderno de laboratório; queria dizer monossomias, presumo. e daí talvez não)

14 junho 2008

Todos juntos e em coro


PARABÉNS OUTRA VEZ!!!

Um grande abraço

el paso del angel, villa de lleiva, colômbia



de parabéns para a nossa querida system manager, que diz baixinho e em bom som que na vida existem segundas e terceiras oportunidades, tantas quantas as que quisermos e formos capazes de ver e de aproveitar. E viva os 15+X= muitos e bons anos!!

eutanásia

Recebi este texto num email, daqueles muitos que circulam com anedotas ou bonitos powerpoints com mensagens reflexivas sobre a vida, e como lhe achei graça e hoje é sabado e não apetece escrever sobre nada mais importante, aqui o deixo.
Anoche mi mamá y yo estábamos sentados en la sala hablando de las muchas cosas de la vida. Entre otras, estábamos hablando de la idea de vivir o morir. Le dije:
"Nunca me dejes vivir en estado vegetativo dependiendo de máquinas y líquidos de una botella, si me ves en ese estado, desenchufa los artefactos que me mantienen vivo, prefiero morir".
Entonces, mi mamá se levantó con cara de admiración...
…y me desenchufó el computador, el televisor, el DVD, el iPOD, y me botó todas las cervezas, el whisky y las bebidas gaseosas.

...¡¡hijueputa!!...
¡¡casi me muero!!

11 junho 2008

Achegas para a teoria da relatividade

Feriado nacional, família toda junta em harmonia e felicidade. Na televisão a Holanda e a Itália para o europeu. Disparo "O Del Piero? Ainda mexe?"
O meu sobrinho de 7 anos sem tirar os olhos da televisão, num tom blasé "É mais novo que tu"

Dia da raça

Dia 12 de Junho, dia do Beagle.




imagem daqui


É preciso ter cuidado visto ele ser um cão extremamente guloso, vai atrás de qualquer pessoa que lhe mostre comida. Não é bom para cão de guarda uma vez que adora toda a gente. Pode ladrar bastante se julgar que alguma coisa está errada.


O beagle está entre as raças mais difíceis, com o menor grau de obediência. Durante o treino inicial pode precisar de dezenas repetições de comandos simples antes de mostrar sinal de que faz ideia do que se trata. Não é raro que precise executar centenas de vezes um comando de forma correcta, antes de se tornar confiável na sua performance. Para assegurar obediência é necessário muito treino, o que pode exigir muita paciência e tempo.

Sempre a brincar

E agora eu era um fantasma e fazia mexer os objectos à tua volta, a chávena do café que se entornava nas tuas calças e tu a ires para o trabalho com a vergonha de uma mancha tão suspeita, o espelho da sala que se despedaçava aos vossos pés e atirava o beijo que lhe ias dar para a pá onde recolhias os pedaços de vidro, eu era um fantasma e via o teu medo crescer com a minha presença invisível nos teus dias, a incredulidade nos teus olhos enquanto perseguias os objectos que fugiam de ti, a escova de dentes afinal na cozinha os restos do jantar na tua cama o telefone no frigorífico as nossas fotografias por todo o lado, até transformar a tua nova vida no inferno etéreo em que estou agora.

Segunda Vida - A saga continua

O meu avatar, a Zepp Writer entra no grande salão de dança do Frank's Place e observa a quantidade abismal de avatares que dançam aos pares, outros também parados, que observam pacientemente, pela sala ou no bar.
A Zepp é finalmente interpelada para dançar mas inesperadamente, é uma avatar feminina que a convida.
A Cart pergunta se não aceito a dança e eu informo-a de que ela é uma mulher, só por descargo de consciência, não vá ela não ter reparado.
Ela diz que não. Que é um homem que está por trás daquele avatar.
Eu rio-me, desconfiada mas aceito a dança querendo descobrir mais pormenores.
Ela diz que criou o avatar feminino para ver como era ser assediada por homens dentro do SL e pergunta-me como é que sabe que eu sou uma rapariga por trás do meu avatar. Touché.
Eu digo-lhe que talvez eu seja um homem e ela de facto, seja uma rapariga. Champs Elisées.
(Esta foi só para rimar com o Touché).
Dançamos durante bastante tempo e conversamos no chat público, outros avatares comentam e mandam algumas bocas de incentivo.
Reparo que recebo uma mensagem privada de um dos avatares masculinos presentes na sala. O Nigel diz que quando eu me fartar de dançar com ela que está ao pé do bar e disponível para dançar.
Estou por isso em multi tasking. a falar com a/o avatar feminino com quem danço e com o Nigel em privado ao mesmo tempo. Descubro que são os dois americanos, a Cart de São Francisco e o Nigel de Boston. O Nigel garante-me que a Cart é uma mulher mas eu nunca chego a descobrir com toda a certeza, se quem está por trás da Cart é um homem ou uma mulher, no entanto, no final da noite, venho-me embora do SL com a sensação de ser uma mulher. A base da minha suspeita?
A meio da valsa ela pergunta-me se gosto da saia dela. E eu respondo-lhe de forma sincera, "Bem, tás com o rabo todo à mostra". (Algumas roupas freebies, mal concebidas trazem estes contratempos)
É neste momento que a Cart desaparece dali e me deixa a dançar sozinha. Volta mais tarde e diz que "crashou" sem querer mas a verdade é que já vem com um vestido diferente. A saia, pelo menos.
Observo que a Cart, ali no meio daquele salão de dança enorme, formal, com dress code exigido, com os avatares todos de olhos postos nela, se entretém a experimentar tops possíveis para condizerem com a nova saia e por isso está tranquilamente de mamas à mostra e não se coíbe de me mandar um beijo através da sala.
Despeço-me finalmente de todos e volto para a minha vida real.
Tempos estranhos estes. Divertidos, contudo.

09 junho 2008

After we're gone

(Algures em Lisboa, depois de um funeral, detalhes de conversa entre irmãos e mãe)

- Eu: Ouçam, se eu por acaso morrer antes de algum de vocês, ficam a saber que quero ser cremada. E se a lei o pemitir, que as cinzas sejam deitadas no mar.

- Irmã X: e se te lançarmos ao mar e estiver vento, e esse mesmo vento nos devolver as tuas cinzas nas nossas caras? (risos)

- Eu: Escolham e estudem as condições meteorológicas mais propícias. Vento de feição para as minhas cinzas! E quero que a irmã Y toque aquela música que, aliás, já sabe qual é. Há muitos, muitos anos.

- Irmão X: Eu não me interessa o modo e como/para onde vou. Desde que cantem o Ave Maria da Nina Hagen... Mas cantado pela própria. E em alemão!

- Eu: Epá, és exigente, tu. E se a Nina Hagen não for viva?

- Irmão X: Então, uma cantora gótica à altura.

- Irmã Z: Eu gostava que cantassem o Gloria, de Vivaldi...

- Eu: Sempre foste muito sóbria... (...)

(Irmã X sempre em silêncio - a mais nova - a ouvir, sorrindo)

- Mãe: Para mim, o que é terra tem que acabar na terra. Ai de vocês se não me enterrarem e não tratarem da minha campa! Quero flores e manutenção e visitas semanais!

(Em coro): Sim, mãezinha...

Entretanto, lá fomos rindo, e brindando a vida. Despedimo-nos de quem partiu da melhor maneira que soubémos. Com a coragem e união imprescindíveis nestes momentos.

E a cidade abriu-se em violeta-flor, hoje. Um manto-passadeira de jacarandás feito.

Também quero ir em Junho.
Já, já, já é que não...

6% dos leitores do 8 e coisa estão na Noruega




serão bacalhaus?

08 junho 2008

It is the evening of the day



...I sit and watch the children play
Smiling faces I can see, but not for me
I sit and watch as tears go by
My riches can't buy everything
I want to hear the children sing
All I hear is the sound of rain falling on the ground
I sit and watch as tears go by

It is the evening of the day
I sit and watch the children play
Doing things I used to do, they think they are new
I sit and watch as tears go by.

As Tears Go By , The Rolling Stones

07 junho 2008

Movida a energia solar


Se as tinha, dissiparam-se-me todas as dúvidas: não posso, definitivamente, emigrar para a Noruega, onde estaria a salvo de toda a perniciosa latinidade. No meu cérebro devem estar instalados sistemas que permitem a conversão da energia solar em força de trabalho. Ainda bem que o sol voltou.

Razões que a razão desconhece


Não entendo o porquê mas nesta altura vibrei como nunca o faço com jogos de qualquer espécie. Virei uma simples e estranha patriótica, as lágrimas a bailarem-me nos olhos e a pele dos braços em jeito de galináceo.
Valham-nos o sol e o futebol.

Imitação da vida

Aterro no mundo pixelado e pedem-me a minha ajuda numa tradução. Uma amiga brasileira quer comprar uma gravidez e vou com ela a uma loja onde vendem vários pacotes: ataxa-se o feto ao avatar, escolhe-se o sexo e o número de bebés e um belo dia entra-se em trabalho de parto virtual. Daí para a clínica está-se ao pulo de um teletransporte. Vários lindens depois, tem-se um bebé ao colo.

Um amigo conta-me que casou. Conheço-o desde que cheguei ao second life e sempre me pareceu que andava à procura do que acabou por encontrar. Com exclamações de felicidade explica-me que conheceu uma rapariga há duas semanas e decidiram casar na segunda vida. Espreito o perfil dele e descubro que está diferente: amo-te laura, cada dia te amo mais, é tão bom sentir o teu amor meu anjo. Na vida real, continua solteiro.

Uma rapariga brasileira decide revelar-me, dez minutos depois de me ter conhecido, a incrível e triste história da sua segunda vida. Ganhou muito dinheiro como stripper, os homens gostavam muito do seu corpo. Um dia conheceu um turco e apaixonou-se. Deixou o trabalho e passou a usar abaya. Estavam noivos. Até ao dia em que ele rompeu o noivado. Chorou tanto que teve de dizer em casa que tinha morrido uma colega do trabalho. Recompõe-se do desgosto conversando com outro avatar, com quem garante ter vivido ‘momentos mágicos’. Quando ele entra o meu mundo deixa de existir, existo só para ele.

Se esta é uma outra vida, porque razão algumas pessoas a querem tornar igual à primeira?

Venus as a mother

Gostava muito de ter um filho homem. Um bebé lindo e maravilhoso, para mimar. Que cresce e se transforma numa criança que me acha a mulher superior a todas as outras. Passa pela puberdade a competir com o pai e a adorar-me. Que chega à adolescência e me aparece em casa com as namoradas. Eu a vê-las, a medi-las, a compará-las comigo e elas a perderem, a demonstrar-lhe subtilmente isso, se não funcionar demonstro-lhe a ela. Olhe bem para mim e para si, acha que está à altura? E se nada disso resultar, sobrevoo com o Enola Gay e atiro-lhe. Já viu do que eu sou capaz, tem a certeza que me quer como sogra?
Portanto, se calhar é melhor ter filhas mulheres. Iguais a mim. Que me infernizem a vida para dar valor à minha mãe. Deus não dorme.

Abraço

Entro no taxi, digo para onde quero ir e o caminho que me parece melhor, estranho o silêncio do motorista que nem me saúda à entrada. Olho para a sua nuca, o cabelo claro, os olhos pequenos e transparentes, percebo que é algures de leste e que não se quer denunciar. Pergunto-me como um estrangeiro se orientará no nosso trânsito e nas nossas ruas. Pergunto-lhe há quanto tempo está nesta profissão - aprendi há muitos anos, com grandes especialistas na matéria, que é a pergunta mais fecunda.
Ah, só há um mês. Trabalhava na Abraço, sabe o que é? Uma associação de ajuda aos doentes com sida. Mas o governo cortou o dinheiro para a instituição, estava há quatro meses sem receber, tinha de fazer pela vida. Estou aqui há um mês mas é temporário. 4 meses, 4 meses sem receber é muito tempo, não podia continuar. A Sol também está com problemas, o governo deve achar que não há mais gente com sida em Portugal. Trabalhei lá durante cinco anos, gostava muito. Mas não podia estar sem receber dinheiro. Porque é que pergunta, porque é que quer saber?
Porque deve ser dificil orientar-se numa cidade que não é a sua, o trânsito e os nomes das ruas. É aqui à direita, sim aqui, pode-me deixar ali à frente. Obrigado.
Orientar-me não é dificil, conheço bem Lisboa. Só é complicado porque há muitas ruas, vielas, praças, pracetas e becos, é a única coisa que é complicada.
Claro. Boa noite, obrigada, bom trabalho.

06 junho 2008

Relambório de contas

Superadas, por fim, as dificuldades técnicas e temporais, aqui vai o então prometido e devido relambório de contas para o gentil público contribuinte do MCL7C.

Entradas: 1.925 €.

As contribuições, desde os 5€ aos 400€, começaram no dia 24 de Abril e terminaram no dia 21 de Maio.

Saídas: 1925 €

Apresentam-se os seguintes comprovativos:

1- Matrícula – Custou 2.930.833 pesos colombianos, aproximadamente 1.100€.

a) Recibo da matrícula:



b) Documento do giro que um amigo fez directamente do Canadá para outro amigo em Colômbia para que este pudesse pagar dentro do prazo. Dívida saldada.




2) Bilhete de avião – Custou 717.69 €.




(aguardamos a qualquer momento que seja feito o upload a segunda parte do comprovativo do bilhete de avião onde indica o preço do bilhete. foi hoje o dia, aí vai ele:)


3- Outros gastos - Sobraram, então, 107.31 euros que, quando os troquei no dia 13 de Maio a uma taxa de câmbio de 2350 pesos, deram a linda quantia de 252,178 pesos e, destes, 127,350 foram para a bendita cédula de estrangeria. Disto não tenho recibo, pois tive que entregá-lo para os trâmites da cédula. O resto do dinheiro foi para contribuir para o mercado em casa dos meus amigos, transporte e cigarros e claro, ainda tive que pedir dinheiro emprestado pois tudo está caríssimo por lá.
Alguma dúvida, questão, comentário ou sugestão, já sabem, a caixa de comentários está sempre à disposição.

E nós também.

Tus ojos

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Chapéu de chuva

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ó debaixo, pst!

O delírio não era autonómico. Era independentista.

E milenarista também não. Vá, com aspiração milenar, pronto.

Alguém me chamou?


Minhas senhoras e meus senhores, pedimos desculpa pela interrupção. O dia começou bem, com pintura e poesia, mas rapidamente descambou para delírios autonómicos com laivos milenaristas e com desabafos escatológicos provocadores.
Retomaremos a emissão logo que for possível.

é tão bom

poder gemer alto e sem vergonha quando se está a arrear o cagalhão.

6 de Junho 1975


dificuldades educacionais iv

Conseguir comprar uma t-shirt branca que não pareça uma camisola interior.

poema para uma sexta-feira

VIVA
A
VIVA
!!!

Viva o google

Viva o google que nos dá conhecimento instantâneo e nos torna especialistas de coisas nenhuma.
Abro-o enquanto bebo café e descubro As Meninas de Velásquez repintadas com o logo da google.
Diego Velásquez faria hoje 409 anos. Obrigada pelas horas de contemplação.




05 junho 2008

Uma vida só é pouco

Uma vida só não chega, o tempo é pequeno para tudo o que somos e tudo o que queremos fazer. Ao fim de uns tempos a ouvir histórias contadas por uma múltipla, decidi-me a arriscar perder uns minutos desta vida terrena que tenho e entrar no second life.
Criei um avatar, uma boneca prefabricada, e aterrei numa ilha para iniciados. Tudo era um mistério. Mas lentamente descobri como pôr a boneca a andar, a tocar em objectos, a voar. À minha (dela?) volta, dezenas de avatares tão perdidos quanto eu deslocavam-se mecanicamente e aprendiam uns com os outros os primeiros passos deste admirável mundo novo. Soube mais tarde que tudo poderia ser mudado: a aparência da boneca, o cabelo, os olhos, a pele, a forma do corpo, a roupa, os movimentos e as poses. De ridículos bonecos mecânicos a maravilhosas quase cópias de pessoas, é esse o caminho de todos os avatares nesta segunda vida.
Ao fim de quase 3 meses desta nova vida, passei várias horas a voar, a teletransportar-me, a andar de cavalo helicóptero balão mota carro nave espacial, morri mais de mil vezes e fui salva pela impossibilidade da morte no second life, dancei, conheci pessoas interessantes que nunca conheceria na primeira vida, frequentei aulas de construção, aprendi o meu equilíbrio entre a personagem e a pessoa sou para além dela, desci até aos esgotos e fui atacada por zombies, vi uma exposição do júlio pomar e sentei-me em cima de um triceratops, ganhei dinheiro como tradutora, percebi que a segunda vida permite compreeender melhor a maneira como vivo a primeira, bisbilhotei centenas de perfis dos avatares à minha volta, conversei e desconversei, brinquei às barbies, ri até me doer a barriga.
Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

03 junho 2008

alguém sabe

como raio se pode subir um arquivo em pdf a um post?

02 junho 2008

E se eu fosse dormir?

Era boa ideia, não era?

(é que ainda não se descolou de mim a ideia de que tinha que tomar banho de óculos escuros, hoje de manhã, tanta era a luz que entrava pela janela da casa-de-banho da casa onde moro há 3 dias e 2 noites).

Fotofobia, sono ou cansaço, who cares?

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...

boa noite.

Conversas de amigos

Cenário: um jantar de amigos, dois homens gay e 3 mulheres indecisas entre a heterosexualidade, a abstinência e a bisexualidade.

- Ando preocupada com esta história da palma africana, a continuar assim a fome vai ser mesmo uma realidade em todo o mundo e já está a começar.
- A propósito, outro dia li num artigo que o sémen tem um valor nutritivo equivalente a duas colheres de milho.
- A sério, e quantas mamadas terei de fazer para poder fazer umas arepas para o pequeno almoço?
...
(um dos homens para o seu companheiro)- estamos safos mi amor, nós os dois somos uma familia autosustentável...

Do lado de cá

Petição aos líderes do G8, da ONU, da União Europeia e de Portugal
Clikar no link para assinar a petição.

Conselho



Do lado de lá


Quando cheguei à Colômbia, um dos temas recorrentes em todas as conversas era o aumento dos preços dos alimentos, toda a gente se queixava do mesmo e era comum a justificação dada: cada vez há menos terras para as batatas, as frutas, as hortaliças, pois cada vez crescem mais os cultivos de palma africana e de cana de açúcar, cujos frutos já têm compradores seguros do lado de cá e destino certo, os biocombustíveis. Um dos meus amigos dizia que agora já não é válido o que antes ensinavam na escola primária, em Antioquia cultiva-se o milho, em Cundinarmarca a batata, etc; agora na Colômbia inteira de norte a sul se cultiva palma africana. Os megaprojectos de palma africana são um dos apanágios do Governo de Uribe que quer aumentar a extensão dos cultivos de palma até 14% do território nacional, e dos paramilitares, quem são os encarregados de “cuidar” estes cultivos. Claro está que estas funções de cuidado implicam também fazer sair os camponeses e camponesas de determinados territórios, aumentando as cifras do deslocamento interno. Mas como o Governo têm como função inserir laboralmente as pessoas deslocadas, estas acabam muitas vezes por serem depois contratadas para trabalharem nas terras que antes um dia foram suas ou de outros deslocados. É um círculo perfeito. De rabo na boca.

No mundo dos crescidos

Conheci uma senhora numa reunião onde, por pouco, não caimos para o lado, fuziladas pelos respectivos olhares e trocas de impressões. Recebi agora um mail da dita que começa assim: "Estimada amiga". Não sei o que me irrita mais: ela apelidar-se de minha amiga ou eu ter de responder com epíteto parecido...

01 junho 2008

Tua



Não te mexas, as mãos ficam aqui onde as deixei. Esta noite vais ser o que eu quiser que tu sejas.