31 agosto 2007

A minha "second life"

"Trata bem deles!" Com este pedido transformado em ordem a minha filha despediu-se de mim para uns dias de estio com sabor a fim de férias. Os "eles" que eu devo, durante três dias, bem acarinhar são uns encantadores cãezinhos de raças diversas, um do sexo masculino e duas fêmeas. "Eles" necessitam de atenções várias: o pequeno almoço "X", o almoço "Y", o jantar "Z", tudo para que se mantenham hábitos alimentares sadios. Precisam de pelo menos um passeio diário e festas, muitas festas.
Cumpri a tarefa, não sem que algum sentimento de incompetência se apoderasse de mim. Afinal, isto de mexer em botões é muito mais para as novas gerações do que para mim, considerada já uma cota. Mas cumpri e, ao que parece, bem! A "Nintendo DS" onde estes bichanos convivem assim o diz, para gáudio meu.
A dona dos cães regressou a casa. Com ela, um sentimento de ausência. Dou agora por mim a perguntar:"Já trataste dos teus cães?!" , "Levaste-os a passear?!". Emudeci de horror perante a notícia: "Mãe, vendi a Chipsie; ela não obedecia nunca!"

Portugal

Tem figurado no interior de várias publicações um anúncio de página inteira, chancelado pelo Ministério da Economia e da Inovação, onde podemos ficar a par das virtuosidades lusas no que aos recursos energéticos diz respeito. Para além dos diversos motivos de orgulho, que muitos de nós desconhecemos (e que não ficamos a conhecer melhor) é a imagem que constitui a minha indignação e que, à falta de meios técnicos para a publicar, passo apenas a descrever. Sobre um maravilhoso fundo azul, uma Europa Ocidental verdejante e um "Portugal" contornado a branco. E não é que Madeira e Açores não constam? Caso para dizer: e esta, hem?!

30 agosto 2007

Canção simples



Uma música que faz parte do meu Verão. Não há estação de rádio que não a passe e/ou a tenha passado. Nos lugares mais improváveis consegui ouvi-la, transmitida em AM ou FM Stereo.

Fazes muito mais que o sol, diz a canção. É verdade (digo eu).

portugal no seu melhor




Coisa bonita de se dizer

Some people say that I want you for your money but I really want you for your body. Pleased to meet you baby, I wanna to be your honey, so let's go tell your daddy and mommy. And this won't get any easier now that your heart is beating in my hand. And I'll try not to destroy you, baby, even though we both know I can. You know I can.
E não é que já foi dito? É ver no my space - não no meu, no delas, das meninas, das irmãs, das giras The Pierces.

29 agosto 2007

Terra à terra

O que é um pedaço de terra com outra tanta terra por cima? Terra. O que restará dos despojos dessa terra quando passarem os anos que estão estipulados pelo cemitério? Há quem diga pó, eu digo terra.
- Estou menina ----?
- Sim, sou eu.
- Vamos levantar a sepultura.
- (...) Não vou vou estar presente.
- Compreendemos, menina. Telefonaremos mais tarde.
[driiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmm]
- Estou?
- Lamentamos, mas o corpo ainda não estava 'pronto'.
- E agora?
- Agora, só daqui a seis anos o levantaremos novamente.
- Vai continuar no mesmo lugar?
- Sim, no mesmo lugar.
Ontem senti-me absurdamente rídicula com as flores na mão. 9 anos depois e ainda consigo ouvir o barulho daquela rosa a estatelar-se contra a madeira.

Bares da minha aldeia

Na aldeia onde estou a passar férias há uns quantos bares que competem a parca população veraneante entre si, tendo de recorrer aos mais variados truques de marketing, em geral de uma sofisticação arrasadora.

Há um bar que se chama tolomeu. É giro, perspicaz, de uma sagacidade histórica a lembrar a nossa tradição atlantica. Imagino que o dono seja um senhor de meia idade, bonacheirão, que gosta de futebol e cerveja, e que diz de si mesmo que é um tipo divertido e se ri muito das suas próprias piadas. Se alguém não lhe acha graça acrescenta "estou na reinação".

Noutro bar recentemente remodelado, com paredes coloridas e tectos de betão tapados por palhinhas, a querer fazer pensar que estamos nas caraíbas e não na terra balnear mais gélida de Portugal, usam uma sinalética sui generis para indicar o género a que se destina cada uma das casas de banho. Parei na antecâmara entre as duas, olhei atentamente. A das meninas tem muita borboletas pintadas, nas paredes e no quadro com um S enorme; a dos meninos apresenta uma pila com os respectivos apêndices reprodutivos de proporção a indiciar uma fertilidade transbordante, encimados por um par de asas, que se multiplicam ao longo das paredes. É bonito e subtil, pirilaus alados a instigar as hormonas dos que se livram dos restos da cerveja. Só não entendo que tipo de pudor os impediu de alar um pipi, para a sinalética ser mais coerente.

Modernices

Jantar familiar diário, 16 pessoas à mesa entre os 14 e os 89 anos. Vantagens de ter uma casa grande para passarmos férias todos juntos.

Uma prima conta que a caminho do cinema no centro comercial encontrou numa loja aparentemente normal (seja lá que isso for) um kit sado-maso, que incluia venda, algemas e mini chicote. O adolescente que ouviu tudo atentamente perguntou interessado: também tinha um capuz com fecho éclair na boca? Todos se calaram e ficaram a olhar para ele de boca aberta.
"onde é que tu viste isso?"
"duh, já ouviste falar da internet?"
"sim, é aquela coisa que tu não vais voltar a ver durante os próximos 5 anos"

Dia um

É o que antecede o dia dois. As horas são elásticas, umas muito grandes e outras muito pequenas. Nas maiores, vou dar uma volta de bicicleta, ouvir a senhora que está sempre a falar de coisas muito antigas e outras nem por isso, vou mergulhar no mar gelado ou pôr ordem nas letras que se amontoam em páginas e páginas que nunca mais acabam. E assim chego ao dia dois. O que me lixa é que isto dos dias nem sempre segue a lógica numérica. E não encontro uma gaiola onde os possa arrumar.

27 agosto 2007

SOS animal amigo

Há uns dias houve um incêndio enorme em Sintra, enquanto os bombeiros tiravam água das piscinas dos burgueses os pobres gritavam para os telejornais. Os ricos pagaram a crise e o fogo foi circunscrito (adoro esta expressão) e depois finalmente apagado.

Hoje recebi um mail alarmante. Parece que o gabinete médico veterinário da Câmara de Sintra está à brocha com uma quantidade não especificada de cães, gatos, periquitos, hamsters, coelhos, ovelhas e mesmo cavalos (tudo no plural) que foram resgatados da zona.

Pede-se às pessoas que façam o favor de irem buscar os animaizinhos. Não creio que seja possivel não se dar pela falta de uma vara de porcos ou um rebanho tresmalhado.

O telefone é 219238816, manda a mensagem o SOS animal.

Festas

fotografia do Filipe


Qualquer pretexto é bom, desta vez uma venda de garagem. Juntamo-nos todos, comemos, bebemos, conversamos, dançamos até cair. Duas ou três de nós tiramos sempre os sapatos a meio da noite, e comparamos escuridões nas plantas dos pés no fim da festa. Rimos, abraçamo-nos, dançamos a dois, a três, aos pulos, com passos combinados ou cada um para o seu lado. Cantamos. Os vizinhos tocam à campaínha, baixamos o som. Aumentamos de vez em quando. Bebemos, comemos, fumamos. É bom ter amigas/os assim.

26 agosto 2007

verão

queria escrever sobre não sei bem o quê, o verão que afinal não é, o último filme de não sei quem, o mundo que continua a girar apesar de tudo o que acontece dentro dele. Nunca percebi por que razão não há alguém com muita razão que chegue um dia a um ponto qualquer da Terra e diga alto e pára o baile, isto assim não pode continuar, e de repente a Terra parasse de girar em volta de si mesma e em volta do sol, e de repente todos (milhões e milhões) percebessem que do meio do nada havia alguém que visse toda esta confusão, todo o ar que se respira, toda a nêspera e figo e arroz que é engolido e devolvido sob outra forma à terra de onde veio, todas as noites mal dormidas e os suspiros e as dores e as lágrimas, alguém que visse tudo isso e nos soubesse chamar à razão e nos fizesse ver (milhões e milhões de eus e nós) que tudo isto não passa de qualquer coisa que eu ainda não sei o que é.

palavras sábias do meu avô

vocês são é todos uma cambada de malucos, irra!

O regresso do lápis azul


Ele olhava e esperava. Ninguém escrevia mais nada. Estava só ali aquela música que apela a coisas inomináveis. Ele ficou impaciente. Esperou mais um bocado. E resolveu que tinha de regressar. Com tanta personalidade múltipla, será que ninguém faz a fineza de mudar de assunto?

23 agosto 2007

Tanto rio


Vale a pena percorrer e conhecer os cursos dos rios para perceber que não temos apenas uma vocação atlântica e água salgada onde refrescar o corpo e as ideias. Este ano foi o que fiz e fiquei encantada. Aqui ficam as ligações para o ICN e para a recente rede de praias fluviais, excelente alternativa aos destinos litorais e/ou meridionais.

21 agosto 2007

Mais vale tarde...


À querida múltipla que se escuda atrás do felino, muitos parabéns - vergonhosamente - atrasados!

Gineceu

Chegaram no sábado à casa de madeira no meio de pinhal, todas gostavam umas das outras embora se conhecessem de formas diferentes. Já se tinham encontrado algumas ou bastantes vezes ao longo da vida em diversas situações e de cada vez redescobriam-se, olhavam-se, contavam-se, pensavam-se. Trouxeram para dentro da casa as suas vidas, deixaram mágoas e realçaram alegrias em cada pincelada dos vernizes coloridos, apagaram lembranças dolorosas com a acetona, com todo o cuidado para não manchar a mesa da dona da casa, e corrigiram imperfeições do carácter removendo cuidadosamente a pintura que se espalhou aos dedos. Dançaram freneticamente from Buraka to the world, saboreando ecláires de chocolate falaram da múltiplas potencialidades das masturbação feminina, trocaram receitas, felizes com as novas surpresas que poderiam vir daí. Fizeram uma corrida a pés juntos até ao carro empurrando o vento e a puta da vida, lançaram as cartas do Tarot esperando ver nelas alguma coisa que as ajude a perceber melhor a vida que é tão dura e elas que são tão molinhas, mergulharam na autoterapiagrupalpessoalecósmica introspectiva. Soltaram o riso, a gargalhada, os sorrisos, e com eles decoraram a casa transformando as paredes de madeira envernizada em cenários luminosos e coloridos. E foi assim que também contaram as suas vidas e as suas tristezas, deram rédea solta ao choro, deixaram-no ir a galope sem destino, deram forma com as palavras ao que pesava disforme no coração e confirmaram os seus desejos, sonhos e possibilidades.
Na primeira segunda feira de manhã cedo do resto das suas vidas despediram-se. Como guerrilheiras pacifistas, partiram em direcção à revolução das suas vidas quotidianas, e depois de acalmar o riso, inspiraram profundamente desde os seus plexos solares, sentiram-se, ajustando o centro do seu ser ao centro das mudanças que aí vinham, vêm, chegaram.

20 agosto 2007

Podia-me acontecer a mim



Depois de me rir durante 10 minutos, vou arrumar a casa.

A quem de direito

Na esquina da rua 54 com a 7ª avenida, Manhattan.

Há algo de terrorista nas mulheres despeitadas que me faz suspirar de alívio por ser heterossexual.

19 agosto 2007

Cos'è la destra, cos'è la sinistra*

Os farmacêuticos são feios, porcos e maus. Acabemos com o monopólio, ´bora aí vender os medicamentos não sujeitos a receita médica por todos os lados a ver se eles aprendem, vendemos como serviço à comunidade e toda a gente engole. Toma lá que já almoçaste, pimba na Amélia.



Vou ali beber uma água das pedras e já volto.

* gamado ao Giorgio Gaber

18 agosto 2007

El feo guapo


Por este até jantava favas guisadas com vinho verde e arroz doce à sobremesa. Como parece que está ocupado esta noite, como carne assada com arroz e salada, pêssego careca e um filme. A perfeição não existe.

Ansiosa e muito deprimida

A polícia quer perceber o "fenómeno de uso de drogas na condução". "Percebendo esse fenómeno, cada vez mais gerador de acidentes, podemos também reduzir a sinistralidade", frisou Ascenso Simões, secretário de estado da administração interna. Eu, ingénua me confesso, pensava que o que aumentava a sinistralidade no nosso país eram os nabos e os aceleras, afinal são os agarrados. Adiante.
O novo kit que a brigada de trânsito possui para testar o suor e saliva dos automobilistas tem capacidade de detecção de drogas e seus metabolitos; quem se recusar a fazer o teste (é um direito que assiste a qualquer cidadão, relembra-nos o major Lourenço da Silva) ocorre no crime de desobediência qualificada. Não sei qual é o prémio que toca na rifa ao engraçadinho que o tentar.
Se for testado e acusar, fica sem carta e sem dinheiro. Ou seja, vai para o Instituto de Medicina Legal ou para um qualquer estabelecimento público de saúde, para averiguar o seu grau de agarranço.
Já estou a tremer por esta altura. Mas o que mais me intriga é que esses testes detectam as ditas substânicas até 3 dias depois de serem consumidas -e todos nós sabemos que o efeito que provocam no corpo humano não dura tanto.
A saber:
Portanto, a polícia não vai andar tanto à caça de quem conduz under the influence, mas sim a fazer um rastreio dos consumidores - da última vez que olhei, o consumo de drogas é despenalizado no nosso país. Pelos vistos não.
Caso mais caricato vai para as benzodiazepinas, que na maioria dos casos é tomada sob receita médica e em doses que não afectam a capacidade de condução. Até parece que anda um certo berbicacho entre autoridades, já que o Instituto de Medicina Legal diz que mandou a BT ignorar a presença de antidepressivos e ansiolíticos e o Ministério da Administração Interna diz que vai tudo a eito.
O que é que eles querem de nós?

16 agosto 2007

Um ar de Sexo e a Cidade

Esta fase de vamos-não-vamos-apaixonamo-nos-ou-não tem, comigo, esta chatice de:

- Então, o que é que fazemos hoje? (ele)
- Nada?... estava a pensar ir para minha casa fazer as minhas coisas... (eu)
- Ah... (ele com cara de cão abandonado à beira da N125 no Verão)
- Não é que não me apeteça estar contigo, apetece... só que estou um bocado cansada (eu a segurar-me para não dizer que não somos casados, que tenho problemas com a intimidade assim de repente e que achava que toda a gente tinha)
- Pois... queria estar contigo... gosto de estar contigo... (ele a tentar qualquer coisa que eu não percebo bem o que é, dado que já lhe expliquei 300 vezes que gosto de estar sozinha)
- Amanhã? (eu a ser amorosa, a evitar ser insuportável e a tentar mostrar que não é que não queira estar com ele, que quero, só que me apanhou numa altura esquisita e eu não sou capaz de me atirar assim de repente para uma coisa de responsabilidade como uma relação boy meets girl and live happily ever after - para além de achar o género piroso até mais não)
- Está bem... (ele)
- Boa. Então até amanhã. (eu a gostar da compreensão dele)
- Mas é que... (ele)
- ... (eu a pensar: "Mau, que isto estava a correr tão bem, para que é que temos de estragar tudo? Hein? Para quê?")
- ... se não estivermos juntos não nos vamos conhecer... (ele à procura de um argumento qualquer... e a sair-se com este... mauzinho)
- Vamos, vamos. (eu, sem convicção, a tentar que ele acredite que o quero conhecer melhor, claro que sim, mas não de repente. Menos é mais?)
- Não gosto muito desta sensação de que ando atrás de ti... (ele a querer revoltar-se, dando a entender que tenho de ter cuidado, ou vai-se embora - e, pronto, se isso acontecesse de facto era uma pena, que lhe acho muita graça)
- Mas não tens de te sentir assim (eu a segurar-me outra vez, desta feita para não lhe dizer que sim, anda atrás de mim, mas que até gosto)
- Então vale a pena? (ele ansioso que até dói)
- Vale, vale. (eu a morder a língua para não dizer: "Vale tudo menos tirar olhos.")

15 agosto 2007

Prazeres

Fechada em casa em Agosto enquanto quase toda a gente está de férias ou a trabalhar nos respectivos empregos. Sozinha em casa, enfiada no escritório, a acabar um trabalho há demasiado tempo protelado. Chega a angústia, o cansaço, a tentativa de procrastinação. Mas não há muita volta a dar-lhe.
Hoje descobri um novo prazer que me posso oferecer mesmo sem sair da frente do computador. Comprei uma cadeira de trabalho, daquelas giratórias com rodinhas em baixo, muito confortável para passar aqui o dia inteiro. De repente recolhi os pés, fiquei de cócoras em cima do cabedal preto, e comecei a fazer-me andar à roda dando impulso com a mão na secretária. Fiquei nisto uns minutos, a ter um prazer incrível com isso. Primeiro visual, ver as coisas todas a passarem-me à frente, sem que os olhos tivessem tempo para processar nitidamente o que viam. Depois fechei os olhos, redescobri a posição das orelhas na cabeça, começando a ouvir a ventoinha do computador do lado direito, depois em estéreo, e a prolongar-se pelo ouvido esquerdo.
Reabro os olhos, sinto-me tonta. Estou feliz.

14 agosto 2007

E se fossem as nossas mulheres?

"Nenhuma disposição legal ou humanitária autoriza a tortura, mesmo em condições de guerra. Talvez por isso, o "Military Commissions Act" dos EUA (de 2006) exclui efectivamente a violação da definição de tortura. A lei, propugnada pelo presidente Bush, exige prova específica da intenção de cometer tortura. Mas a motivação é muito difícil de provar nos casos de agressão sexual porque o acusado pode sempre dizer que a motivação era a satisfação sexual e não a tortura. A lei limita a noção de violação à penetração sexual (na lei internacional e na maior parte dos Estados dos EUA adopta-se uma definição mais abrangente). A nova lei também condiciona a agressão sexual à existência de contacto físico, excluindo assim muitas formas de abuso sexual que as forças dos EUA cometeram no Iraque, como a desnudação forçada e as ameaças e humilhações sexuais. Segundo esta lei, só a penetração coercida e pela força é considerada violação. Deste modo, as fotos da investigação do general Taguba de um polícia militar estadunidense "a fazer sexo" com uma mulher iraquiana não seriam prova de violação, pois não estabelecem necessariamente a coerção. No entanto, as leis internacionais e dos EUA reconhecem que a violação ocorre sempre que a vítima não dá o seu consentimento livre e voluntário. Numa relação sexual caracterizada por uma extrema disparidade de poder (tal como entre um guarda prisional e um detido) o consentimento torna-se um conceito nebuloso. A nova lei de Bush, por isso, autoriza efectivamente a violência contra as mulhares pelas tropas dos EUA."
noticia daqui, original em inglês aqui

E se fossem as nossas crianças?

Ahmed Ghazi, comerciante em Faluja, tem fracas razões para armazenar brinquedos inocentes na sua loja. “É melhor importarmos brinquedos como armas e tanques porque no Iraque são mais vendidos aos rapazes, diz Ghazi à IPS. “As crianças tentam imitar o que vêem das suas janelas”. E acrescenta haver também importações especiais para as raparigas, “que preferem bonecas que choram do que outras que dançam, cantam canções ou tocam música.” (...) Nos princípios de Abril de 2003, o Fundo das Nações Unidas para as Crianças estimou que meio milhão de crianças iraquianas estão traumatizadas pela invasão levada a cabo pelos Estados Unidos. A situação tem piorado terrivelmente desde então.Num relatório publicado no início do ano pelo Ministro da Educação do Iraque, constata-se que foram mortas 64 crianças e 57 ficaram feridas em 417 ataques a escolas, num período de quatro meses. Ao todo foram raptadas 47 crianças no seu caminho de ou para casa, durante este mesmo período.

13 agosto 2007

Não se pode pedir mais de um pai

Meu amor querido, minha filha adorada, tenho muito orgulho em ti e em tudo o que fazes. Desejei-te tanto, fiz-te com tanto amor, que se não fores feliz sentir-me-ei culpado por te ter posto no mundo.
- no meu voice mail esta tarde.

12 agosto 2007

O Jorge

Na porta de um dos apartamentos do meu prédio coabitam uma imagem de Nossa Senhora de Fátima com um autocolante que diz não à entrada da Turquia na União Europeia. Gente estranha, pensei eu quando vim para cá morar.

Descobri que quem lá vive é uma senhora com mais de 90 anos que anda sempre sozinha. Muito magra e tímida, encolhe-se toda quando alguém passa por ela, quando a cumprimento na rua não me responde - não me deve reconhecer fora do contexto. Passa muitas horas sentada num banco do jardim em frente ao prédio, gostava de saber no que pensa. Por vezes quando me responde aos bons dias sorri, e nesse sorriso descubro uma alegria quase infantil, e imagino-a de tranças a andar de baloiço. Presumo que a santa mãe seja dela, a declaração de ostracismo de um qualquer neto ou sobrinho.

Um dia vi-a entrar com um rapaz volumoso, moreno, bigode, com um ar malandreco e autoritário. Sem dúvida o autor das afixações, que entretanto tinham aumentado com a publicidade a um campeonato de kick boxing, onde se mostravam 4 galfarros em poses ameaçadoras e possantes. Informação sem dúvida utilíssima aos 8 inquilinos do edifício.

Quando estava a tomar chá em casa dos únicos vizinhos da minha idade descobri que a D. Madalena de seu nome não tem netos e que os autocolantes se devem ao Jorge. Eles vivem mesmo em frente dela e um dia o Jorge começou a aparecer lá por casa. De início a D. Madalena dizia que era o seu sobrinho, e passado uns tempos começou a referir-se a ele apenas como “o Jorge”. O rapaz começou a ser visita habitual.

A senhora que era assídua nos pagamentos do condomínio e seguro começou a ser menos pontual e a acumular dívidas. Um dia a falar com esta vizinha disse “sabe, comecei a ter umas despesas extra. O Jorge acha que eu devo ter telefone, TV cabo, internet... começámos a fazer umas viagens, que o Jorge diz que a vida é para aproveitar enquanto cá estamos... além do mais, coitadinho, precisou de fazer uma operação à vista e como ele não tinha dinheiro eu paguei-lhe. A vida é para aproveitar, sabe”.
Depois da operação à vista o Jorge começou a aparecer menos. A D. Madalena continua a passear sozinha. A vida é para aproveitar enquanto cá estamos.

Leões, crocodilos, búfalos e as suas crias

Ver documentários sobre os animais selvagens é sempre educativo; o que vem em baixo é de tal forma insólito no panorama a que estou habituada que não posso deixar de o mostrar.
Uma manada de búfalos passeia-se ao longo de um lago, sem perceber que estão a caminhar na direcção de um grupo de leoas que os espera. A poucos metros de distância o líder do grupo sente o cheiro dos predadores, pára e começam todos a fugir, perseguidos pelos felinos - que atacam uma das crias, conseguindo arrastá-la até à beira do lago enquanto os outros búfalos fogem como podem.
O grupo de 5 leoas domina o búfalo, abocanhando-o pelo pescoço e arrastando-o para a água; mas o cheiro de sangue atrai um crocodilo que tenta roubá-lo. Todos os leões se juntam para arrastar o almoço que ainda esperneia para fora da boca do crocodilo, que sendo apenas um não tem força para ganhar esta luta.
Enquanto os leões tentam sangrar o búfalo até à morte, a manada reorganiza-se e decide voltar atrás para reaver a cria caçada, aparecendo em bloco e encurralando os leões. Num ataque de fúria bem pensado e orquestrado, coisa que nunca antes tinha visto, os búfalos conseguem livrar a sua criatura das garras dos atacantes.
Os leões ganharam aos crocodilos, mas os búfalos ganharam a todos. A prova de que a união faz a força. Ou de como ser búfalo não significa que se deixe comer pelos leões. Pelo menos não hoje; amanhã, bem, logo se vê.

11 agosto 2007

Estes são os meus avós

Tenho grandes preocupações em ser politica e socialmente correcta, livre-me Nossa Senhora dos Aflitos de ofender quem quer que seja. Por isso vivo atenta às novas regras que vão surgindo e procuro aplicá-las sempre e em todo o lado.


Hoje apeteceu-me falar dos meus avós, e queria uma fotografia para os ilustrar. Mas, graças à Shyznogud, descobri que não os posso mostrar de qualquer maneira, existe toda uma lista de imagens a evitar - nomeadamente as que dizem respeito aos mais velhos. A saber:



Persons who are older: Images to avoid



Assim sendo, não me resta que este desenho

(eu sempre desconfiei que ser graficamente desafiada me haveria de ser útil um dia)

Canino

O que separa o desejo de infidelidade e a sua concretização é a capacidade de arriscar. Em geral aprecia-se num cônjuge o virtuosismo da palavra e acção, mas quando toca à traição todas preferem dormir com um enconado que com o infiel. O mundo é feito de contradições.

08 agosto 2007

Desespero doce ou doce desespero

Do I kid myself to think that I'm your one 'n only?

06 agosto 2007

Verdade ou Consequência

Para onde foste quando desapareceste?

03 agosto 2007

Sedução na Lisboa à Noite

Para que não haja mais desculpas sobre a falta de livro de instruções do sexo oposto e a falta de oportunidade para encontrar alguém mais especial, ou mesmo que não seja especial, só alguém, há uma alma caridosa disposta a acabar com essa situação ingrata e ensinar "comportamentos de sedução heterossexual (sujeitos entre os 18 e os 25 anos) em contexto urbano nocturno, festivo, com incidência na exibição corporal, nas fantasias privadas, na sedução verbal e na passagem ao acto através de carícias e de beijos. Será apresentada uma análise dos diversos discursos femininos e masculinos sobre as experiências sexuais pessoais, bem como uma análise psico-sócio-histórico-cultural das transformações na estrutura conjugal. Estas análises serão seguidas de uma interpretação das mudanças relativamente aos comportamentos vividos em contexto nocturno." Ver aqui.

Os destinatários deste curso são "Estudantes de Antropologia ou de outras áreas, público em geral" que também terão direito a visita guiada ao "Bairro Alto, Docas de Alcântara, Rocha Conde d`Óbidos e Belém, seguida de reflexões sobre a estadia nesses contextos."

Eu sempre disse que agora é que tinha idade para saber estudar!!

O tempo sem tempo

Ministro quer creches abertas até mais tarde. (..)Para reforçar a sua posição, Vieira da Silva apontou o exemplo de uma creche que visitou recentemente em Vila Nova de Cerveira: "Visitei uma creche que estava aberta das sete da manhã até as dez noite e estava cheia", disse para justificar a necessidade que os pais sentem em contar com um serviço mais alargado. A maioria das creches praticam horários até as 18 horas, sendo que algumas, funcionam até às 19 horas, mas cobram uma taxa suplementar.

Enquanto o ministro se alegra por uma creche estar aberta e cheia até às 10 da noite e quer alargar este medida a outras creches, a mim aterroriza-me esta notícia e a falta de sentido crítico sobre ela. Porque será que os pais têm de trabalhar tanto que não podem estar com os seus filhos e filhas? Às 10 da noite já uma criança deveria estar supostamente a dormir, mas em vez disso ainda está na creche, certamente acompanhada por uma auxiliar mal paga, com filhos que (com sorte) também lá estão à espera que a mãe saia.

Continuamos a fazer a contabilidade errada do nosso tempo e o saldo sai sempre negativo. Continuamos a inventar máquinas e sistemas informáticos que produzem dez, cem, mil vezes mais do que as pessoas e contudo estas, nós, continuamos escravos do tempo e de um sistema económico e político que não se compadece de quem o alimenta. Quanto tempo o nosso tempo tem?

01 agosto 2007

Holiday!



Férias!
Vou e volto. Com histórias para contar desses 'caminhos por Portugal, onde vou ver tantas coisas lindas, vou ver um mundo sem igual'...

P.S. A 'queen' Madonna agora e sempre a celebrar a efeméride!
Até já, queridas múltiplas e leitores deste blogue.

Coisas que não percebo

Arrendamento. Antigamente era comum, especialmente porque as casas não eram muitas, a esmagadora maioria das pessoas não tinha o dinheiro necessário e os bancos não ajudavam.
Hoje em dia confesso que não percebo a lógica do "queremos mais casas para arrendar". Então já não se considera positivo que as pessoas tenham casa própria e/ou sejam incentivadas a isso? Quer-me parecer que casas para arrendar não faltam (basta ver os classificados) e que o arrendamento faz todo o sentido para pessoas que estão em situações transitórias, mas não sei se será uma boa solução final (passe-se a conotação histórica da expressão). Até porque entre o preço de uma renda e o preço de uma prestação bancária a XX anos, a diferença não costuma ser muita (e estamos a falar de arrendamentos novos, por isso não vale o argumento da velhinha que vive na mesma casa há 100 anos e agora vai ter de pagar mais 0,06 € por mês).
A única explicação é ele(s) ser(em) proprietário(s) de vários terrenos urbanizáveis/urbanizados nos concelhos limítrofes e querer(em) ganhar umas massas valentes, porque não acredito que, sem nenhum negócio escuro atrás, os promotores vão nessa...

Inquietação

E se eu, de repente, me cansasse do meu corpo? Não do meu corpo, mas de ter corpo. Quem me valia?